19/03/2017

O BRASIL VISTO PELO I CHING


Creio que como todo mundo, ando pensando muito na situação política e econômica do nosso país. Meu primeiro impulso foi abrir o Tarô pra me ajudar a refletir. Porém, considerei o I Ching um oráculo mais apropriado ao tema. O milenar oráculo chinês, analisado e comentado por Confúcio, sempre apresenta uma visão estratégica do momento em que estamos vivendo.

Para quem não conhece o I Ching, vou explicar um pouquinho no que consiste. São 64 hexagramas (imagens de seis linhas, dois trigramas) que abrangem todos os ciclos da vida. Se a situação é definitiva, nos deparamos com um único hexagrama, coisa rara. Se está em transformação, encontramos linhas em mutação que vão gerar um segundo hexagrama, desenvolvimento do anterior.

Pois bem, encontrei o hexagrama chamado Limitação e um segundo, Conflito. É, a coisa tá complicada.


O I Ching usa imagens da natureza e costumes orientais muito antigos para evidenciar as situações. Muitas expressões, se levadas ao pé da letra, não fariam o menor sentido para nós. Por isso, vou usar minhas próprias palavras e as de Richard Wilhelm, autor do clássico “I Ching - O Livro das Mutações”. Vale dizer que eu também já escrevi um livro a respeito: “I Ching – Mensgens para o crescimento pessoal”.

O hexagrama Limitação fala, como o nome indica, das limitações que precisamos impor a nós mesmos e às situações para que tudo funcione adequadamente. Limitações econômicas e morais. As coisas não podem correr frouxas, mas também é preciso muito cuidado para não apertar demais. O conselho geral do hexagrama é: “Sucesso. Não se deve perseverar ao se exercer uma limitação amarga.” Acho que está bem claro, né?


Nossos governantes, então, acertam quando impõem limites aos gastos públicos e punem a corrupção. Porém, se exageram, o resultado é a revolta popular. Até as limitações devem ter limites para serem aceitas sem maiores problemas. É mais ou menos isso o que diz o hexagrama em seu julgamento.

Aí, vamos às linhas móveis, em mutação: primeira, quarta e sexta, o que significa que logo logo a situação pode mudar. Num primeiro momento, é preciso se conter sem culpa. Se não dá para ir até onde gostaríamos, ok. Vamos até onde dá e esperamos a hora certa de ir além. Mas é preciso ficar bem quietinho. Se não for desse jeito, com certeza teremos problemas. Acho que já passamos dessa fase da paciência, né?

Bom, vamos para a segunda linha em mutação, a quarta linha, um segundo momento. Aí vem um tempo onde a limitação é aceita porque sua necessidade é compreendida. Ou seja: se a limitação visa o interesse comum as coisas vão bem; se não, temos problemas. Quem acha que vivemos uma limitação necessária?

A terceira e última linha móvel (a sexta do hexagrama Limitação) não é muito agradável. Ela nos fala de limitações duras demais, que as pessoas não aguentam. Há muita reação aos limites impostos. Ao mesmo tempo, a linha fala de limitações morais que cada um deve impor a si mesmo para não se corromper. Soa familiar? Incrível, né?
Onde é que isso vai parar? O segundo hexagrama (resultado da mutação do primeiro) e resposta à pergunta é: Conflito. O Julgamento deste hexagrama diz: “Você é sincero e está sendo impedido. Deter-se cautelosamente no meio do caminho traz boa fortuna. Ir até o fim traz infortúnio. É favorável ver o grande homem. Não é favorável atravessar a grande água.” Cada um deve fazer sua própria interpretação, mas farei algumas considerações.


De cara, pode-se entender que “de boas intenções o inferno está cheio”. Depois, é inevitável nos lembrarmos do impeachment da Dilma e de pensarmos se Temer deve renunciar. A qual deles o hexagrama se refere? Quem sabe, aos dois.

O hexagrama confronta a esperteza e a força. Há um impasse. Somente uma pessoa com autoridade moral, sabedoria política e digna de respeito pode tentar solucionar o conflito buscando uma conciliação. Alguém imagina quem seria essa pessoa? Se o conflito persiste a coisa fica mais feia ainda...

Tem mais: “não é favorável atravessar a grande água”. Isso significa que não dá mesmo para pensar grande, para mudar o país, para empreender tarefas difíceis e grandiosas. Não dá pra sair da crise. Ao menos enquanto o conflito não for solucionado. E podemos ir além: o país não conseguirá resgatar a credibilidade internacional tão cedo. Triste, né?

O fato é que insistir no conflito não leva a nada por mais que cada lado ache que tem razão. Ânimos acirrados só resultam em caos. Esperteza e violência também não dão em coisa boa. É preciso encontrar um meio-termo, por mais difícil que isso nos pareça. Uma tentativa de prevenir o agravamento desse embate seria estabelecer rápido regras bem claras e iguais para todos. Contudo, infelizmente não vejo como isso é possível no Brasil de hoje, quando até a Justiça é claramente desigual em relação a interesses poderosos. Só nos resta encontrar o tal “grande homem” (ou mulher) capaz de resolver o conflito com uma decisão justa ou conciliatória. Cadê?

Publicado no Clube do Tarô no dia 6 de março


22/01/2017

MOVIMENTO HISTÓRICO

VIVEMOS A TRANSIÇÃO




Que a história é cíclica todo mundo sabe. Há tempos de guerra, tempos de ciência, tempos de descobertas... Enfim, os ciclos vão se sucedendo e a humanidade avançando. Creio que estamos saindo de uma era bastante materialista e consumista para uma outra, mais espiritualizada. Valores morais começam a ser resgatados, o bem-estar coletivo ganha mais importância, a preservação da natureza e do planeta passa a ser uma necessidade consciente e o ser humano busca conhecer melhor a si mesmo e busca conexão espiritual e evolução. A filosofia volta ao assunto cotidiano.

Não é por acaso que temos um Papa dedicado ao que realmente faz diferença no mundo e que o kardecismo ganha mais adeptos. Somos mais do que materialmente conquistamos e a cada dia mais pessoas tomam consciência disso.

Costumo dizer que o jogo de tarô nos ajuda no autoconhecimento e, assim, faz com que saibamos lidar com nossas deficiências e saibamos explorar nossas qualidades devidamente. Nos tornando pessoas melhores estamos mais preparados para construir um mundo melhor. Nesse aspecto, minhas duas áreas de atuação - tarologia e jornalismo - se encontram na finalidade de contribuir para o bem (individual e coletivo).

Noto também outro movimento histórico: da globalização voltamos para a vizinhança.

A internet fez com que rompêssemos fronteiras e pudêssemos lidar com toda a diversidade cultural do planeta. Pudemos compartilhar tudo: desde protestos políticos ao menu do almoço... A voz de cada um ganhou maior volume, para o bem ou para o mal. As pessoas se expõem ou se disfarçam na grande rede. O fato, porém, é que a informação se tornou mais acessível e a expressão individual ganhou mais espaço. Eu posso conversar com alguém no Iraque e um amor pode nascer entre um indiano e uma canadense que jamais se encontraram pessoalmente.

Acontece que se a tela do computador ou do celular toma cada vez mais atenção da gente, o vizinho mal conhecemos... É chegada a hora de reaproximar. Nas metrópoles como São Paulo surge a chamada "vizinhança solidária" para combater a violência. Nas comunidades carentes a união é combustível do progresso. Grupos temáticos pipocam aqui e ali... Até o carnaval de rua ressurge com força nas ruas do país! A política volta a interessar.

Contudo, em fases de transição há bastante turbulência. As coisas ainda não estão bem definidas, falta conhecimento. É preciso reestabelecer conceitos, ideias e ideais. É preciso se abrir para a opinião do outro. É preciso somar e subtrair sem retroceder. É preciso conversar com o vizinho.

Creio que estamos a caminho do maior respeito à diversidade descoberta na globalização. Claro que sempre tem uns neonazistas aí para atrapalhar. Mas acredito que vão quebrar a cara sem muito esforço e entender que estão no rumo errado.

A globalização possibilitou enxergar o mundo inteiro, agora precisamos conhecer quem mora ao lado. Trabalhando junto com quem está perto melhoramos nossa comunidade; melhorando nossa comunidade melhoramos o mundo. É nesse sentido que devemos caminhar agora.

#prontopenseiescrevi